quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Percurso conceitual e reflexões que fundamentam a possibilidade de currículo globalizado na proposta de Hernández (1998).

Na obra estudada Fernando Hernández (1998) propõe a uso dos projetos de trabalho como ferramenta principal para aprendizagem nas escolas, porém para tal são necessárias mudanças na educação, bem como transgredir as “regras” atuais, exatamente como explícitos no título.
O primeiro capítulo da obra destina-se a explanar o caminho percorrido pelo autor para atingir a concepção dos projetos de trabalho, portanto faz várias argumentações, para explicar esta abordagem.
No princípio o autor revela que na época em que iniciou o estudo sobre projetos de trabalho, além desta, possuía várias questões de pesquisa de seu interesse, porém os projetos de trabalho emergiram e canalizam todo o esforço de pesquisa do mesmo, sendo e algumas daquelas questões acabaram por se integrar à concepção idealizada posteriormente. Era o tal questionamento: “Estamos ajudando nossos alunos a globalizar, a estabelecer relações entre as diferentes matérias, a partir do que fazemos na sala de aula?”
Baseado em estudos de pesquisadores e filósofos, como Stenhouse, Gergen, Dewey, Kilpatrick e Bruner, mas também de conversas ocorridas com colegas, e sobretudo de recordações que tinha de suas experiências e “insights” relacionados a elas, Hernández evoluiu para uma abordagem dos projetos de trabalho apoiada principalmente nos conceitos de currículo globalizado e educação para compreensão.
Entre as reflexões relevantes de Hernández é possível destacar aquelas que se encontram abaixo como princípios para a abordagem dos projetos de trabalho:
  • “Na construção da realidade, o todo é muito mais do que a soma das partes; para interpretar uma esfera da realidade se legitimam algumas formas de saber, alguns conhecimentos, alguns indivíduos enquanto que se excluem outros” (p.16).
  • Os problemas que interessam e preocupam os estudantes, os quais têm relação com suas vidas, não possuem resposta em um currículo acadêmico, fragmentado e organizado por matérias disciplinares (p.17).
  • A ideia dos projetos de trabalho também é oriunda de cursos onde confeccionar projetos fará parte das atribuições profissionais dos alunos, nesse sentido afirma que os projetos “possibilitam estabelecer conexões, gerar transformações, explorar caminhos alternativos, dialogar com outros projetos que brindam práticas profissionais vinculadas a essa noção”(p.22).
  • Quanto à considerar as experiências que os aprendizes já possuem, Hernández faz seguinte observação: “não de parte do zero e é necessário considerar o ‘lugar’ de onde viemos, as ideias e as experiências que reconhecemos e que nos influenciam” (p.23). É importante perceber que o autor utiliza a palavra “lugar” para definir o patamar onde cada um se encontra.
  • As experiências pessoais mencionadas não devem ser consideradas para que sejam copiadas e sim para reinterpretar tais experiências e nesse sentido afirma: “o intérprete sempre se situa em outro ponto de vista, olha a partir de outro ‘lugar’, incorpora novos olhares com os quais transforma as situações objeto de seu interesse” (p.23).
  • Quanto à educação para compreensão, Hernández preconiza a ideia de Dewey de que “se não de compreende o que se aprende, não há uma ‘boa aprendizagem’” (p.24), é necessário “aprender para compreender e agir”.
  • É relevante ainda para aluno o saber interpretar fenômenos, assim o autor observa:
“O ensino da interpretação seria a parte central de um currículo que adota um enfoque para compreensão, onde se tenta enfrentar o duplo desafio de ensinar os alunos a compreender as interpretações sobre os fenômenos da realidade, a tratar de compreender os ‘lugares’ desde os quais se contróem e assim ‘compreender a si mesmos’” (p.28).
  • Tal compreensão e capacidade de interpretação, torna mais fácil vencer um desafio atual: o desafio do conhecimento, que diz respeito à “como adquirir o acesso às informações sobre o mundo e como adquirir a possibilidade de articulá-las e organizá-las” (p.37).
  • A noção de currículo globalizado e educação para compreensão servem sobretudo para:
“Favorecer o desenvolvimento de estratégias de indagação, interpretação e apresentação do processo seguido ao estudar um tema ou um problema que,por sua complexidade, favorece o melhor conhecimento dos alunos e dos docentes de si mesmos e do mundo em que vivem” (p.39).

HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Um comentário:

  1. Portanto, estamos dizendo que é possível, por meio da indagação, da interpretação e da re(elaboração), conduzir à uma compreensão maior de quem somos, de quem é o outro... e do mundo em que vivemos.

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